2 personagens:
mulher: 30 anos, triste
Doutor: 30 anos
Mulher: Eu Cansei! Vou mudar de opção!
Doutor: Mas porque essa decisão tão drástica?
Mulher: Pois então doutor, não aguento mais ser abandonada. Eu nem queria ficar com ele dessa vez, mas ele veio de mansinho, com aquele olhar pidão, pedindo carinho, sempre do meu lado...
Eu sou humana né? E eu moro naquela casa tão grande, sozinha. Eu sei que isso já me aconteceu tantas vezes antes mas dessa vez eu achei que fosse diferente. Eu não suspeitei que pudesse ser abandonada, esquecida, ignorada, rejeitada desse jeito.
Doutor: Mas você deu espaço para ele? Ou ficou sufocando o pobrezinho como vez com os outros?
Mulher: Ô Doutor! Se dei espaço? Como você acha que ele fugiu? Ele tinha livre acesso a minha casa. Deixei ele escolher qual canto da cama queria.
Doutor: E alimentação?
Mulher: Era casa, comida e roupinha lavada.
Doutor: Que estranho! Eles normalmente são fiéis quando tem isso. Você tentou de tudo?
Mulher: Eu tento desde que tenho 15 anos de idade. Já tentei com todos os tipos: grandes, pequenos, peludos, brancos, pretos, todas as raças...sem preconceito nenhum.
Comprei livros. Fui naquelas lojas especializadas para comprar brinquedinhos para agradar.
Doutor: Desde os 15 anos? E sua mãe deixava?
Mulher: Na verdade eu tive um escondido aos 13. Ele ficava sempre perto de casa e de repente parou de aparecer. Me disseram que ele havia sido atropelado. Foi aí que eu criei coragem e minha mãe percebeu que era melhor dentro de casa do que escondido na rua.
Doutor: Desculpa perguntar, mas foram quantos ao todo?
Mulher: Uns 20 eu acho. Já perdi as contas. Teve o Dudu, Rico, Tomy, Roy, Pepê, Phil, Roger, Caco, Tobi, Ben, Dido, Elvis, Guga, Henry, Tom, Juba, Kill, Luca, Nuno, Chico e o Zé que você nem conheceu.
Doutor: Ufa!
Mulher: E todos me abandonaram. Todos fugiram de mim. Todos me engaram com aqueles olhinhos amorosos e demonstração de carinho. Todos falsos.
Doutor: E nenhum nunca voltou?
Mulher: Não. Porque as vezes eles voltam?
Doutor: É. Quando não conseguem outra dona que cuide deles melhor, as vezes eles se arrependem e voltam com o rabo entre as pernas. Mas eu te disse que estava muito cedo para você substituir o Chico. Nem sempre arrumar outro novo resolve a ausência de um antigo.
Mulher: Nem me fale do Chico... aquele cachorro.
Doutor: E qual era o nome desse novo?
Mulher: Eu coloquei Rex mesmo, pelo menos até conhecer melhor. Depois mudei para Zé. Será que foi isso? Mas essa foi a gota final. Eu desisto: Quero mudar de opção. A partir de hoje eu não crio mais nenhum cachorro. Agora é gato, papagaio, piriquito, o que for, mas cachorro nunca mais entra lá em casa. O que você me aconselha?
Doutor: Bom, dado o seu histórico: que tal um aquário?
Mulher: Ótimo! Peixes não são muito de fugir né?
Doutor: Se bem que tem uns que pulam. Melhor comprar um aquário com tampa, só por garantia.
Mulher: Obrigada Doutor, você é realmente um ótimo veterinário. Espero que pelo menos agora dê certo.
Mulher sai de cena
Doutor: Quem não tem cão... (Olha para os lados para ver se tem alguém olhando, pega a coleira e assovia) Zé! Bom Garoto! Vamos passear